terça-feira, 31 de julho de 2007

Felipe e Hugo

Ontem e hoje foram dias cansativos, como eu já esperava. Os 12 alunos que me foram entregues na última sexta-feira mal sabem ler. Comportam-se mal, falam palavrões, brigam uns com os outros, tumultuam as aulas. Sinceramente eu não sei o que fazer. Penso em desistir, mas não sei se essa é a melhor solução.
Dois alunos me deram trabalho ontem e hoje: Felipe e Hugo. Fiquei sem saber o que fazer com eles, pois batem nos pequenos, chamam palavrões, gritam, andam o tempo inteiro na sala. É difícil dar aulas com alunos assim. Infelizmente hoje tomei uma decisão brusca: suspendi por três dias os dois. Não tive escolha. A saída da sala desses dois alunos foi um alívio para mim e para os demais alunos. Eu não posso prejudicar 20 alunos por causa de apenas 2. Não é justo. Me julgue quem quiser.
Estou sendo julgada pela primeira vez na minha vida como uma péssima profissional. Não me sinto assim. E quem me julga sabe que não sou essa pessoa. Se há alguém que busca o melhor para a educação neste país sou eu. Sempre me dediquei a educação mesmo antes de estar numa sala de aula. Não me tomem o que lutei para conquistar. Não me julguem pelas minhas palavras, mas pelos meus atos. Me julguem pelos meus sentimentos, pela grandiosidade da minha alma. Eu não sou uma pessoa má. Se faço algo errado nessa vida, quem é que não faz?
Cadu e Eloisio faltam hoje, era o aniversário dos dois. Géssica esteve presente na aula. Andreza faltou, coisa rara.
Estou meio tristonha e não tenho muito o que falar. Apenas deixo a mensagem aos meus alunos: faço o que posso.

domingo, 29 de julho de 2007

a A

Com a escrevo ave
Meu beijo irá voar
Num assopro suave
O a está no mar.

A de amor
A de Ana, minha flor
A de alô
Saudades do vovô.

Primeira letra do alfabeto
Arara, avião, alegria
Escrever e ler certo
Última letra da palavra dia.

*Uma das minhas poesias do meu livro P de poesia, A de alegria.
Força e coragem, Rosângela!

Medo! Eis a palavra que me consome desde sexta-feira data em que recebi a turminha do terceiro ano. O que fazer com essas crianças? Algumas sequer sabem escrever o nome, outras trocam o "d" pelo "p" e ainda há aquelas que mal conhecem as vogais. Crianças com mais de oito anos de idade. Tenho medo, sim, não de controlar a turma! Tenho medo de que essas crianças não venham aprender a ler e a escrever até o final do ano.

A maior dificuldade de todos os alunos juntando o segundo e o terceiro ano é quanto as sílabas com mais de duas letras do tipo: brin, bra, vro, cran etc. Eles também não sabem diferenciar "po" de "por", parece que não prestam atenção ao som. Escrevem, por exemplo: "pota" e não "porta". Pedrita procura adivinhar o que está escrito no quadro, mas conhece as letras. Biel até se esforça junto com Húdson; Guilherme, Afonso e Cícero não se preocupam com nada.

Fico com medo de que essas crianças esqueçam seus sonhos no decorrer dos dias e diante das dificuldades. Não quero que eles percebam o quanto estão atrasados em termos de alfabetização, mas preciso chamar atenção deles de alguma forma. Tenho medo sim, medo de me tornar uma professora insensível. Com o acréscimo de mais alunos na sala não terei mais tempo para me dedicar a cada rostinho, cada sorriso, cada olhar, cada pedido, cada choro escondido, cada vergonha dentro da mochila, cada borracha perdida no meio das sílabas. Tenho medo de que as crianças se distraíam. Sei que preciso até amanhã descobrir uma fórmula mágica para incentivar esses meninos e meninas nos estudos.

Quanto ao ensino da matemática a turminha que recebi sexta-feira não sabe fazer continhas. Os meus alunos já sabem. Amanhã precisarei dividir o quadro em três e não mais em dois. Eu não sei o que vou fazer, pois tenho três casos sérios: 50% da turma sabe ler, mas escreve pouco; 20% ler alguma coisa e não escreve nada; 30% não ler e não escreve. Eis uma avaliação feita na última semana:

50% DOS QUE SABEM LER E ESCREVEM POUCO:

Fabrício (excelente em leitura e bom na escrita)
Eloísio (excelente em leitura e bom na escrita)
Ana Luíza (excelente em leitura e boa na escrita)
Karol (excelente em leitura e boa escrita)
Andreza (excelente em leitura, fraca em escrita, excelente em matemática)
Carlos Eduardo (bom em leitura, fraco em escrita, fraco em matemática)

20% DOS QUE SABEM LER ALGUMA COISA E NÃO ESCREVEM NADA

Gabriel (excelente em matemática)
Húdson (excelente em matemática)
Pedrita (sabe escrever o nome completo)

30% NÃO LER E NÃO ESCREVE (conhecem as vogais e algumas consoantes)

Cícero (dificuldade)
Géssica (falta muito)
Afonso (dificuldade)
Guilherme (dificuldade)
Higor (tem uma má caligrafia e retira o texto errado do quadro)

Esse é o quadro que eu tenho hoje. Quanto ao comportamente não tenho do que reclamar. O problema é que eles não prestam atenção na formação das palavras e na pronúncia. Não estudam em casa. Acredito que posso ajudar meus alunos com um antigo livro de poesias que fiz e engavetei. É um livro de poesias sobre as letras do alfabeto. Será que conseguirei alguma coisa com esse livro? Quem sabe?! Acho que não custa nada tentar. Deus me proteje e me ilumine nesta semana que está começando. Deus, proteja meus alunos.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Biel, eu te amo!
Meu querido Biel tenho visto seu esforço para aprender a ler. Gosto do seu jeito bonito de me pedir para ler uma história com você. Mas Tia está sempre ocupada para lhe dar atenção especial. Eu gostaria muito de poder sentar com você e passar horas lhe contando histórias, ajudando-lhe a ler. Mas compreenda sua Tia que tem mais treze alunos querendo a mesma coisa num mesmo momento.

Aos poucos, meu querido Biel, você vai aprender a ler sozinho através do seu próprio esforço. Eu vou ficar muito feliz, como no dia em que você leu a palavra "vaca" sozinho. Espere um pouco. Em breve estará lendo tudo quanto for história e as gravuras serão apenas para decorar o que hoje você não consegue decifrar.

Biel, quem luta, quem tem sonhos, quem tem coragem, tudo vence. Você ainda é muito pequenino para isso, logo não pode saber como lutar. Porém você pode estudar em casa e ocupar lugar de destaque na sua própria vida. Diante dos amigos você será sempre o Biel maravilhoso, diante de mim o meu menino corajoso, diante do mundo mais um menino alfabetizado.
Estarei sempre por aqui para te ajudar, meu querido. Conte comigo no que precisar. Não esqueça de mim, pois eu nunca esquecerei de você. Um grande beijo da sua Tia Rosa.
Resumo de um dia de aula com a minha turminha de alfabetização

Antes de começar a aula nós rezamos o Pai-Nosso. Fazemos uma pequena oração pedindo a Deus para nos proteger contra todo o mal e que tenhamos uma tarde agradável com saúde, paz e amor.

A aula começa. Sempre com português. Divido o quadro no meio, porque tem alguns alunos que ainda estão aprendendo a escrever e outros já sabem. É preciso saber lidar com essa diferença. Para mim é só uma questão de tempo. Aos que já sabem ler vou explorando a gramática e a interpretação textual. Aos que ainda estão aprendendo a ler exploro pequenos textos e a junção das sílabas para formar palavras.

Há o momento de contação de histórias. São cerca de trinta minutos, apenas. Uma história por dia. Às vezes eles trazem o livro de casa para eu ler. Acho bonita essa atitude das crianças.

Um pouco mais tarde tiro quinze minutos para conversarmos um pouco sobre religião. A vida de Jesus Cristo na Terra, os seus ensinamentos, a fé, a proteção e a confiança que devemos ter em Deus em todos os momentos das nossas vidas.

Após o intervalo (recreio) aula de artes. Ensino as crianças a fazerem desenhos. Exploro o poder da criatividade.

Já perto de terminar a aula faço um ditado com palavras do cotidiano das crianças. Elas gostam. Assim consigo assimilar que está aprendendo a ler e a escrever. Alguns sabem ler, porém não sabem escrever.

Por fim, passo o dever para casa. Eles gostam de continhas. Sempre levam para casa continhas para fazer. Isso é bom, porque desenvolve o raciocínio lógico.

As demais matérias são dadas no decorrer da semana. Português é a única que dou todos os dias. Ciências, história, geografia, matemática, inglês e filosofia são substituídas todos os dias. A matemática também tem um lugar especial, pois são três dias de aula.

Nas minhas aulas os alunos fazem o que eles gostam. Quando não gostam de algo ensino-lhes a gostar. Meus alunos não são obrigados a estudar nada que seja considerado chato. O chato não existe na minha sala de aula.

A campainha toca avisando que chegou o final da aula. As crianças me abraçam e me beijam. Vão para casa. Eu também vou. Até amanhã, dizemos todos.
Ter e ser
Conheço crianças que têm um lar, brinquedos, família, escola, esporte, comida e roupa lavada. Mas também conheço crianças que são tímidas, irrequietas, peraltas, teimosas, mentirosas, invejosas, educadas, inteligentes, preguiçosas, companheiras e especiais. Conheço crianças que têm muito e são muitas coisas; conheço crianças que têm muito e são poucas coisas; conheço crianças que nada têm e são tantas coisas.
Das crianças que têm muito e são muitas coisas destaco o meu pequeno Fabrício. Ele tem pais maravilhosos, amor, família, casa, pratica esportes (Karatê), brinca na rua, tem uma bicicleta. É um menino inteligente, amável, amigo, companheiro, bondoso e meigo. Para Fabrício o ter e o ser ainda não significam tanto, pois na sua vida tão pequenina ele só pensa em ser feliz. Sei que mais tarde essas duas palavrinhas pesarão muito na sua vida.
Das crianças que têm muito e são poucas coisas destaco o meu querido Vinícius. Tem uma mãe maravilhosa, tem uma casa, brinquedos, cadernos e material escolar bem organizados, roupas boas e bonitas, tem lanche todos os dias etc. Mas Vínícius não é feliz. Vejo isso no seu jeito de se comportar em sala de aula distante dos outros meninos. Chora por tudo. A sua sensibilidade está sempre ferida. O seu ser parece sempre perturbado com algo. Por uma simples bobagem Vinícius Chora, mas essa simples bobagem para ele pode parecer algo enorme!
Das crianças que nada têm e são tantas coisas me encanto diante do brilho do olhar de Andreza. Ter? O que a menina Andreza tem? Na sua casa falta água para tomar banho, falta comida, roupa limpa, falta o amor materno, o zelo dos pais, o xampu para lavar os cabelos, o gás para cozinhar a comida, alguém para ajudá-la a fazer suas tarefas de casa. Mas Andreza é um anjo. E ser um anjo é uma coisa maravilhosa, porque todos procuram ajudar os anjos perdidos aqui na Terra. Andreza é acima de tudo inteligente, boa em matemática, leitura, escrita, educação, amiga de todos, companheira, cúmplice, meiga, carinhosa, afetuosa, gentil e saudosa.
Em todos eles há uma coisa que supera os limites do ter enquanto bem material. Todos os meus alunos têm um coração do tamanho do mundo num sentido conotativo. Um coração que é bondoso e amigo. Nesse momento o ter e o ser se encontram e eu me torno pequena diante dos meus maravilhosos alunos que ainda não sabem distinguir se o melhor é ser feliz ou ter muito dinheiro; se o melhor é ter amigos ou viver num casarão isolado de todos; se o melhor é sorrir ou ficar de cara fechada para o mundo; um dia eles vão crescer e saberão distinguir essas duas palavras. Espero que sigam para o melhor caminho.

domingo, 22 de julho de 2007

Para alfabetizar é preciso amar

Deixo aqui meu recado aos alfabetizadores do meu país. É preciso amar o que fazemos. Antes de ensinar a criança a ler e a escrever é preciso ensinar-lhe a amar. Só o amor torna o homem curioso, logo sábio. Só o amor conserva a alma pura. Só o amor ultrapassa barreiras. Na minha pequena experiência com alfabetização venho escrevendo um livro sobre essa arte de amar que antes de mais nada devia ser uma das principais disciplinas da alfabetização. Não estou deixando de lado aqui a importância da língua portuguesa e da matemática. Não. Estou apenas alertando que a criança pequenina arrancada da sua casa para todos os dias ir a um lugar chato onde é obrigada a fazer o que não lhe dar prazer tem seu inconsciente menosprezado e abandonado por si próprio. Quer a criança poder livrar-se de tudo aquilo, mas não sabe como.

Tive, recentemente, uma experiência que levarei para o resto da minha vida. Depois de contar a história "Adivinha quanto eu te amo" comecei a dialogar com os meus alunos sobre o amor. Nesse diálogo um deles falou que a mãe sempre dizia que o amava. E assim os outros foram dizendo a mesma coisa. Um dos meus alunos ficou quieto, encheu os olhos de lágrimas, baixou a cabeça e teve vergonha de não sei o que. Fingi não perceber para não tornar a sua dor muito maior. No final da aula, o chamei até perto de mim, dei-lhe um grande abraço e cochichei no seu ouvido: eu te amo muito mais do que o coelhão pai. Ele sorriu e me disse: eu também te amo.

Talvez eu nunca alfabetize aquelas crianças como manda as leis e o regulamento da minha escola, mas uma coisa é certa: elas serão amadas e aprenderão a amar. O amor move montanhas e tudo pode.

Um abraco aos alfabetizadores do meu país.

Festa junina ou julina

Dia 20 de julho, dia do amigo. Amo meus amigos. Aqui deixo o meu recado àqueles que tão admiravelmente me têm como amiga. Um cheiro no âmago de cada um de vocês.

Hoje foi a nossa festa junina, um pouco atrasada diga-se de passagem. Mas foi uma festa superlegal! A minha turmina da alfabetização fez um casamento matuto, um não, três. Teve apresentações de quadrilhas e danças. Contamos com a participação de outros professores e alunos de outras escolas. Os pequeninos se divertiram bastante.

Os recadinhos do coração disseram o que muita gente esconde e só espera uma oportunidade para dizer. Jéssica quem era a responsável pelos recadinhos. Gracinha era a tesoureira da festa. Nada passava em branco por ela. Maria de Fátima e Telson estavam de azul. Contamos com a presença dos nossos ex-alunos. A presença da comunidade local. Foi uma festa agradabilíssima!
M antes de B e P

Sexta-feira dei aulas de inglês do sexto ao nono anos. À tarde dei aulas na turminha de alfabetização. Hoje trabalhei a gramática da língua portuguesa. Mostrei o uso do M antes das letras P e B. A metada da turminha que ainda está aprendendo a ler vai muito devagar. Eles tentam adivinhar o que está escrito no quadro. Ainda não despertaram para a junção das letras e a formação das sílabas. Penso que terei de voltar a cartilha do a b c. Hoje passei um texto bem fácil para eles:

A vila

A vila é bonita.
Na vila tem muitas casas.
As casas são de papelão.

Apesar do texto ser bem fácil eles confundem vila com vaca. Mas quando peço para eles juntarem as letrinhas percebem que não estão lendo corretamente. Preciso descobrir como fazer para despertar a aprendizagem nesses pequeninos.

Acho que é só isso por hoje. Tive uns contratempos, coisas de trabalho. Mas Deus, o bem maior, ajudou-me.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Maria de Fátima

Eu sei que um dia sentirei muitas saudades de você. Sou uma professora exigente, meio chata, às vezes muito chata, mas só hoje percebi que os professores chatos são os que mais nos amam. Sou assim porque me preocupo com você. E quando alguém se preocupa conosco é porque nos ama muito. Você me cativou, minha querida. Eu queria sorrir como você, viver sem me preocupar com o dia de amanhã, ver o mar tão perto e poder dizer bom dia e boa noite para ele.

Maria de Fátima você ficará para sempre nas minhas lembranças. Quando partir à procura de trabalho, lembre-se de mim, das minhas exigências, do meu jeito de pedir para fazer novamente e jamais lhe pedirão para fazer algo duas vezes, pois você tudo o que fizer será bem feito. Estou lhe preparando para essa vida dura que bate a nossa porta todos os dias. Uma vida árdua e cheia de espinhos. Com muita gente invejosa e ambiciosa. Com muita gente má.

Da sua professora de filsofia que tanto ama o saber com muito carinho fica aqui registrado o bem que lhe quero. Seja alguém na vida e não admita que muitos "alguéns" sejam a sua vida. Se destaque perante a multidão nem que seja através de um olhar diferente. Seja antes de tudo você e o mais não importa. Um cheiro.
A vaca

A vaca é bonita.
A vaca é do menino.
O menino puxa a vaca.
A vaca vai para o rio.

Retire do texto duas palavras com a letra v.

Retire do texto uma palavra com a letra r.

Qual o animal que aparece no texto?

O que a vaca faz?
Deus Toth, A lua e bom humor
Hoje foi um dia muito bonito! Uma quarta-feira que amanheceu nublada, com pancadas de chuva toda a manhã. Dei aulas na Escola Municipal Pedro Fernandes, meu único dia de aula nessa escola. Os alunos não sonham alto por lá. Eu sei que na escola eles buscam uma vida melhor, mas não sabem o que fazer com o que aprendem. Um deles me perguntou se eu estava de bom humor. Achei intrigante a resposta já que estou sempre contente com a vida. Ele me disse que tem muita gente na escola que demonstra não ter bom humor. Pedi um exemplo. Ele me deu vários. Tem gente carrancuda, gente que fala alto, gente que não sabe conversar. Pensei muito sobre o que ele me falou. E decidi falar um pouco sobre o bom humor.
As pessoas bem humoradas vivem mais tempo. São felizes. Elas não permitem que os problemas as dominem, elas dominam os problemas. As pessoas bem humoradas não ficam doentes facilmente. Vivem mais. Estão sempre com um sorriso no rosto. Falam manso e não se aborrecem com tolices. As pessoas bem humoradas procuram compreender os outros. Não vestem roupas, as roupas as vestem. As pessoas bem humoradas andam sempre para frente. Não falam dos outros, porque mal têm tempo para falar de si mesmas. Mas sabem escutar com atenção. As pessoas bem humoradas têm sonhos, geralmente quase impossíveis. As pessoas bem humoradas praticam boas ações. E mais ainda: as pessoas bem humoradas julgam as outras pelos atos e não pelas palavras. Ao meu aluno, que agora não me recordo o nome (aluno novato), meu sorriso e o meu bom humor com a resposta ao seguinte ditado: por que a curiosidade matou o gato? Acho que o gato pensou ter mais de uma vida. As pessoas de bom humor geralmente têm mais de uma vida.
Hoje inciei um curso de mitologia grega na Escola Municipal Sérgio de Oliveira Aguiar. A minha escola querida. O curso começou às 11:10 e terminou às 11:40. O primeiro deus trabalhado foi Toth. O deus da sabedoria, da escrita. O deus lunar. O deus venerado no panteão egípcio, lugar onde eram venerados os deuses. Toth é considerado um deus importante em relação a escrita. Antes de começar o curso falei um pouco da diferença entre lendas e mitos, expliquei o significado das palavras mimesis e diegesis. Falei sobre tradição oral, folclore etc. Participaram do curso: Maria de Fátima, Jéssica, Bárbara, Margareth, Lauro, Ana Ingrid e Hítalo. Se esqueci o nome de alguém me avisem, pois estou sem a lista de presença.
À tarde na aulinha de alfabetização expliquei o que é a lua e suas fases. Contei a história "Adivinha quanto eu te amo" (novamente). Nunca pensei que fosse contar essa história tantas vezes. Fiz desenhos com os alunos. Brincamos. Cantamos o hino nacional e a música "Era uma vez". Talvez eu não consigo alfabetizar esses pequeninos, mas uma coisa eu vou deixar no coração de cada um deles: amor. Hoje, eu perguntei quantas vezes eles já tinham escutado alguém dizer: eu te amo. Percebi que um dos alunos encheu os olhinhos de lágrimas cobriu o rosto para não ser visto chorando. Pedi para ele me dar um abraço, mas não quis. No final da aula, ele me abraçou e eu cochichei no seu ouvido: EU TE AMO. Não deixe para amanhã o que você tem vontade de dizer agora. Diga sempre EU TE AMO ao mundo.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Cícero

Hoje dei as cinco aulas pela manhã. No sexto ano dei uma matéria sobre encucação. Willamy ficou curioso e procurou no dicionário o que significa o verbo encucar. Depois dei aula no sétimo ano sobre discurso poético (mimesis e diegesis), mas eles estavam bagunçando na sala de aula e não consegui explicar a máteria. Fui para o oitavo ano e dei o mesmo assunto. No nono ano falei sobre o filósofo Cícero e seu poder de pesuasão; pedi para eles lerem o Diálogo sobre a amizade, de Cícero. Foi uma manhã meio chata. Tive problemas com Manoel Henrique e com o sétimo ano. Pedi para Hítalo ir dar uma bronca neles, pois estavam com expressões horríveis em sala de aula.

Os alunos que mais chamaram a minha atenção hoje foram: Willamy que demonstrou mais interesse pelas aulas. Maria de Fátima que não ficou com raiva de mim por tê-la mandado à direção. Margareth pela boa vontade de ler uma matéria de jornal para os colegas da sala. E fiquei muito triste com os demais alunos que não se esforçaram para obter uma boa nota nas avaliações contínuas de filosofia.

Na turminha de alfabetização só quem faltou hoje foi Géssica. Descobri que o novo aluno tem o nome iniciado por H, mas ele não usa. Ele também não sabe fazer continha de somar levando o 1 para cima dos outros, como por exemplo: 89+94; ele escreve 1713. Afonso passou a tarde toda sem chorar, que bom! Fabrício e Eloísio foram para a direção, porque estavam atrapalhando a leitura oral de Andreza. Soltaram pum direto na sala de aula. Biel hoje fez sua primeira leitura sozinho, leu a palavra: vaca. Hoje trabalhamos português e matemática. Eles revisaram os encontros vocálicos e consonantais e os dígrafos. Em matemática vimos o antecessor e o sucessor de um número. Fizemos continhas. Cantamos o hino nacional e a música "Era uma vez". Tivemos leitura oral do livro "Adivinha quanto eu te amo". A aprendizagem está rápida e muito bonita!

Acho que é isso. Mais um dia que se vai. Deixo o pensamento de Pascal para minhas própria reflexões: "o coração tem razões que a própria razão desconhece." Um abraço a todos.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Humanismo e dígrafos

Hoje tive um dia cheio. Dei as cinco aulas pela manha e mais aula à tarde para a alfabetização. Pela manhã tive um pequeno problema com Maria de Fátima e Elivelton, mandei os dois para a direção. Dei aulas de filosofia sobre: humanismo, discurso retorico, coisas irritantes. Acho que meus alunos estão precisando de limites para as suas ações e palavras. Estou preocupada com eles. O sexto ano não procura estudar e não presta atenção as aulas. Cobro muito do oitavo e nono ano e acho que tenho esquecido do sétimo ano. Eles tomaram um susto com o material de inglês a ser traduzido. Gosto do esforço de Bárbara e Margareth. Gosto do jeito ingênuo e meigo de Jéssica e adoro Tarcísio com o seu sorriso lindo. Meus alunos do sexto ao nono ano têm uma filosofia de vida tão bela que às vezes me faz perguntar se é preciso mudar alguma coisa ou tão-somente melhorar. Os alunos já começaram a reclamar dos trabalhos e das redações. Eles reclamam, mas no fim gostam das minhas avaliações contínuas. Sei que deixarei um pouco de mim dentro deles. Deixo hoje um abraço fraterno para Jackson (sexto ano), Neorges (sétimo ano), Roseani (oitavo ano) e Lauro (nono ano).
Quanto a turminha de alfabetização hoje recebi um novo aluno: Igor. Tem oito anos de idade e mal conhece as letras. Hoje eles tiveram aula de portugues (dígrafos) e artes (desenhos de tartaruga, elefante, girafa e cobra). Fizemos a nossa prece inicial antes de começar a aula. Hoje Aninha e Géssica faltaram. Acho que Géssica ficou envergonhada e sentiu-se triste quando numa carga de muito estresse não me expressei bem para com ela. Gostaria de que ela voltasse às aulas. Às vezes fazemos coisas que não faríamos se não est5ívessemos tão cansados. Géssica precisa de ajuda; é uma menina tímida e tem vergonha dos outros alunos, porque ainda não sabe ler. Eles estavam todos com a farda nova e felizes. Afonso pela primeira vez não chorou. Hudson adora desenhar e fez belos desenhos. Contei uma historinha escrita por mim intitulada "Chapeuzinho Azul", eles amaram. Cantamos a música: Era uma vez. A aula terminou às 17h05min. Gosto dos meus pequeninos. Sei que eles também gostam de mim. Pedrita já está escrevendo seu nome corretamente. Karol também. Só Guilherme ainda tem dificuldade para escrever seu nome. Hoje dividi o quadro no meio e separei as tarefas dos que estão mais avançados das tarefas dos que ainda precisam de mais reforço para a alfabetização.

domingo, 8 de julho de 2007


Minhas primeiras aulas de alfabetização


Faz duas semanas que comecei a dar aulas de alfabetização. Tenho no total treze alunos. Sao cinco meninas e oito meninos. Nunca antes pensei em alfabetizar ninguém. É um desafio para mim, mas muitos colegas têm me ajudado. Adoro crianças. Meus alunos são maravilhosos! Poucos já sabem ler. Sei que terei dificuldades. As aulas são engraçadas. Eu conto histórias, falo das coisas da vida, ensino português, matemática, ciências, geografia, inglês, história, filosofia e religião. Aprendi a amar essas treze crianças muito rapidamente. Tem Andreza que adora matemática. Aninha que é sempre dedicada e atenciosa. Fabrício que fala alto. Cadu com aqueles olhos verdes cheios de brilho. Pedrita que adora fazer trabalho em grupo. Hudson muito quieto e tranqüilo, porém não sabe ler ainda. Guilherme que também ainda não sabe ler. Cícero sequer conhece as vogais. Karol que adora me escrever cartinhas e gosta de fazer o dever sozinha. Afonso que chora por tudo, mas e perfeccionista e atencioso. Eloisio que tem problema de visão. Géssica que tem vergonha de não saber ler, ainda. Biel, meu querido, adora fazer leituras junto comigo. Antes de começar as aulas nós rezamos o Pai-Nosso e pedimos a Papai do Céu para nos proteger. Todas as sextas-feiras eu coloco um cartaz com estrelinhas para cada um. Aquele que se comportou melhor em sala de aula, fez as tarefas de casa e dedicou-se bastante é o que recebe o maior número de estrelinhas. Eu faço tarefas diferenciadas, porque cada um deles gosta de coisas diferentes. Pergunto o que eles querem fazer e assim vou ensinando o que sei. Eles adoram as minhas aulas de artes e sempre faço desenhos. Nas aulas de recreação brincamos e cantamos. O mais engraçado da minha turminha é que eles parecem com a Turma da Luluzinha. São meninos pra um lado e meninas para o outro.