Força e coragem, Rosângela!
Medo! Eis a palavra que me consome desde sexta-feira data em que recebi a turminha do terceiro ano. O que fazer com essas crianças? Algumas sequer sabem escrever o nome, outras trocam o "d" pelo "p" e ainda há aquelas que mal conhecem as vogais. Crianças com mais de oito anos de idade. Tenho medo, sim, não de controlar a turma! Tenho medo de que essas crianças não venham aprender a ler e a escrever até o final do ano.
A maior dificuldade de todos os alunos juntando o segundo e o terceiro ano é quanto as sílabas com mais de duas letras do tipo: brin, bra, vro, cran etc. Eles também não sabem diferenciar "po" de "por", parece que não prestam atenção ao som. Escrevem, por exemplo: "pota" e não "porta". Pedrita procura adivinhar o que está escrito no quadro, mas conhece as letras. Biel até se esforça junto com Húdson; Guilherme, Afonso e Cícero não se preocupam com nada.
Fico com medo de que essas crianças esqueçam seus sonhos no decorrer dos dias e diante das dificuldades. Não quero que eles percebam o quanto estão atrasados em termos de alfabetização, mas preciso chamar atenção deles de alguma forma. Tenho medo sim, medo de me tornar uma professora insensível. Com o acréscimo de mais alunos na sala não terei mais tempo para me dedicar a cada rostinho, cada sorriso, cada olhar, cada pedido, cada choro escondido, cada vergonha dentro da mochila, cada borracha perdida no meio das sílabas. Tenho medo de que as crianças se distraíam. Sei que preciso até amanhã descobrir uma fórmula mágica para incentivar esses meninos e meninas nos estudos.
Quanto ao ensino da matemática a turminha que recebi sexta-feira não sabe fazer continhas. Os meus alunos já sabem. Amanhã precisarei dividir o quadro em três e não mais em dois. Eu não sei o que vou fazer, pois tenho três casos sérios: 50% da turma sabe ler, mas escreve pouco; 20% ler alguma coisa e não escreve nada; 30% não ler e não escreve. Eis uma avaliação feita na última semana:
50% DOS QUE SABEM LER E ESCREVEM POUCO:
Fabrício (excelente em leitura e bom na escrita)
Eloísio (excelente em leitura e bom na escrita)
Ana Luíza (excelente em leitura e boa na escrita)
Karol (excelente em leitura e boa escrita)
Andreza (excelente em leitura, fraca em escrita, excelente em matemática)
Carlos Eduardo (bom em leitura, fraco em escrita, fraco em matemática)
20% DOS QUE SABEM LER ALGUMA COISA E NÃO ESCREVEM NADA
Gabriel (excelente em matemática)
Húdson (excelente em matemática)
Pedrita (sabe escrever o nome completo)
30% NÃO LER E NÃO ESCREVE (conhecem as vogais e algumas consoantes)
Cícero (dificuldade)
Géssica (falta muito)
Afonso (dificuldade)
Guilherme (dificuldade)
Higor (tem uma má caligrafia e retira o texto errado do quadro)
Esse é o quadro que eu tenho hoje. Quanto ao comportamente não tenho do que reclamar. O problema é que eles não prestam atenção na formação das palavras e na pronúncia. Não estudam em casa. Acredito que posso ajudar meus alunos com um antigo livro de poesias que fiz e engavetei. É um livro de poesias sobre as letras do alfabeto. Será que conseguirei alguma coisa com esse livro? Quem sabe?! Acho que não custa nada tentar. Deus me proteje e me ilumine nesta semana que está começando. Deus, proteja meus alunos.
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