domingo, 22 de julho de 2007

Para alfabetizar é preciso amar

Deixo aqui meu recado aos alfabetizadores do meu país. É preciso amar o que fazemos. Antes de ensinar a criança a ler e a escrever é preciso ensinar-lhe a amar. Só o amor torna o homem curioso, logo sábio. Só o amor conserva a alma pura. Só o amor ultrapassa barreiras. Na minha pequena experiência com alfabetização venho escrevendo um livro sobre essa arte de amar que antes de mais nada devia ser uma das principais disciplinas da alfabetização. Não estou deixando de lado aqui a importância da língua portuguesa e da matemática. Não. Estou apenas alertando que a criança pequenina arrancada da sua casa para todos os dias ir a um lugar chato onde é obrigada a fazer o que não lhe dar prazer tem seu inconsciente menosprezado e abandonado por si próprio. Quer a criança poder livrar-se de tudo aquilo, mas não sabe como.

Tive, recentemente, uma experiência que levarei para o resto da minha vida. Depois de contar a história "Adivinha quanto eu te amo" comecei a dialogar com os meus alunos sobre o amor. Nesse diálogo um deles falou que a mãe sempre dizia que o amava. E assim os outros foram dizendo a mesma coisa. Um dos meus alunos ficou quieto, encheu os olhos de lágrimas, baixou a cabeça e teve vergonha de não sei o que. Fingi não perceber para não tornar a sua dor muito maior. No final da aula, o chamei até perto de mim, dei-lhe um grande abraço e cochichei no seu ouvido: eu te amo muito mais do que o coelhão pai. Ele sorriu e me disse: eu também te amo.

Talvez eu nunca alfabetize aquelas crianças como manda as leis e o regulamento da minha escola, mas uma coisa é certa: elas serão amadas e aprenderão a amar. O amor move montanhas e tudo pode.

Um abraco aos alfabetizadores do meu país.

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