domingo, 9 de setembro de 2007

Estou no quarto ano

Deixei a minha turminha de alfabetização. Sentirei saudades. Mas estou bem próxima deles, numa sala vizinha. A minha nova turma é alfabetizada, bem avançada na escrita e nos cálculos. Pretendo com eles trabalhar os gêneros literários, os problemas matemáticos do dia-a-dia, a história do Brasil e do mundo, a tecnologia na ciência e os problemas que afetam o meio ambiente na geografia.
A minha nova turma tem apenas cerca de 10 (dez) alunos. Gosto do jeitinho de Diogo, Maria Eduarda, Elisa e Ivisson. Esses são os nomes que decorei até agora. Eles não têm o jeitinho da turminha da alfabetização, pois já pensam em namorar, se maquiar, desfilar. Mas, ainda conservam a inocência e a bondade no peito.
Ah! Faz uma semana que estou com a nova turminha.

domingo, 26 de agosto de 2007

Vida de criança é na escola

O trabalho infantil tem aumentado nos últimos anos. A criança que se dedica ao trabalho deixa de lado a sua infância. A escola acaba sendo trocada pelo trabalho.
Muitas crianças estão fora da escola. O numero de crianças fora da faixa escolar continua grande. Muitas, sequer, conseguem terminar a educação básica. Há vários motivos que desencadeiam a evasão escolar, mas o maior deles é o trabalho infantil. A criança troca seus livros pelas cansativas horas de trabalho. Nos transportes coletivos, nas ruas, nas praças publicas, nos estacionamentos, crianças trabalham como flanelinhas, engraxates, vendedoras de balas ou algodão doce e limpando pára-brisas de carros. Essas crianças deveriam estar nas escolas procurando um futuro melhor.
Só a escola proporciona uma vida digna ao homem, por isso a criança deve freqüentá-la desde cedo e nunca abandoná-la. Os incentivos do governo federal brasileiro para manter as crianças na escola têm crescido cada vez mais. É na escola onde a criança vai aprender a lidar com os problemas da vida. Trabalhando ela vai esquecer o seu brincar, os seus direitos enquanto criança de poder viver a infância na sua plenitude sem responsabilidades civis de manter uma família, por exemplo. A criança tem o direito de praticar esportes, estudar, brincar e ser feliz.
Muitos pais pensam que seus filhos, ainda pequenos, devem ajudar em casa financeiramente.
Com isso mandam meninos e meninas para as ruas, coitados. Essas crianças nem sabem o que fazer, soltas no meio da multidão, são a todo instante engolidas pela ignorância familiar e vomitadas pela necessidade de comer, dormir e beber. É preciso conscientizar os pais de que a maior obrigação da criança é com a escola. Será no leito escolar onde a criança encontrará sua segunda comunidade, participará de atividades sociais, poderá brincar e sorrir com os colegas de sala de aula e seus professores.
O trabalho infantil não deve existir. A criança merece uma infância prazerosa com amor e zelo. A escola e o único local onde a criança encontrará o caminho para a realização dos seus sonhos. Não é preciso trabalhar para matar a fome dos irmãos mais novos, mas estudar para ter fome de saber e força para vencer na vida.

Banho de praia e castelos de areia


No dia do estudante, tomei banho de praia com os meus pequeninos. Depois eles fizeram castelos de areia. Brincaram o dia todo. Se divertiram muito. Fizeram tudo o que tinham direito.


Gabriel adorou correr nas areias da praia! Andreza estava feliz! Guilherme não largava a minha mão! Felipe também não largou a minha mão!


Foi um dia divertido o do estudante, pois ficamos o tempo todo juntos e perto da natureza.
Amanda

Amandinha foi transferida para outra escola. Faz duas semanas que ela se foi. Amandinha era uma menina como outra qualquer, gostava de brincar e sorrir. Falava muito em sala de aula e não tinha muita concentração. Fui sua professora por bem pouco tempo: talvez duas ou três semanas. Tempo necessário para descobrir um problema sério a ser corrigido nela: troca o "d" pelo "p".

Procurei trabalhar isso nela, mas o tempo não me permitiu. Dos meus 23 alunos só me restam agora 22.

Desejo para Amandinha toda a felicidade do mundo. Dizer que sinto muito a sua falta.
O verdadeiro estudante
Rosângela Trajano

O verdadeiro estudante sempre terá dúvidas. É aquele menino ou menina que a turma considera o mais chato, pois vive a atrapalhar as aulas com as suas perguntas. As suas perguntas são uma mistura de incertezas, encucações, preocupações, medos, sonhos, coragem, paciência, tolerança, prudência e, principalmente, sabedoria. Não são perguntas feitas ao léu, mas resultado das suas observações e conseqüências do seu espanto e admiração. Perguntas que tecem uma teia e vão crescendo feito uma bola de neve em meio a conceitos e mais conceitos. As suas perguntas entusiasmam seus mestres. O estudante passa a ser sábio quando reconhece nos seus mestres e livros amigos que o acompanharão para o resto da sua vida.

O verdadeiro estudante debruça-se horas sob a mesa da cozinha ou da sala à procura da solução de um problema de matemática. Inquieta-se, coça a cabeça, vai e volta, não pára, o pensamento está cansado, mas não é hora de parar. O verdadeiro estudante tem sempre ao seu lado dicionários, enciclopédias, livros para consultas, anotações da fala do professor (abro parênteses para dizer: essas são as mais importantes). O verdadeiro estudante encontrou a solução do seu problema de matemática, e de repente, ele olha pela janela e ver que o dia já vem raiando. Noite adentro, cansado e exausto ele precisa tomar um banho, tomar o seu café da manhã e correr para a escola; a ansiedade de mostrar ao seu mestre que conseguiu resolver a questão tão difícil é maior do que seu cansaço.

O verdadeiro estudante nunca deixa de reclamar. Reclama de tudo. Por quê? Talvez porque ele não aceite as coisas do jeito que são e tenha novas idéias que precisam ser ouvidas. O verdadeiro estudante dedica a maior parte do seu dia aos seus estudos. Come livros. Adquire conhecimento. Conversa com seus mestres e junto com eles procura melhorar o ensino-aprendizagem. O verdadeiro estudante não tem silêncio. Tem ruídos dentro de si. Até mesmo quando não se expressa oralmente seu âmago está gritando: por quê? Como? Aonde? Quando? Em que lugar? E agora? São esses gritos os verdadeiros guias do estudante.

O verdadeiro estudante não se preocupa de andar quilômetros à pé em busca do conhecimento, porque ele tem pernas empurradas pela inquietude do saber. O verdadeiro estudante não tem vergonha das suas vestes, porque ele tem a vestimenta principal: a vontade de aprender. O verdadeiro estudante é amigo dos seus mestres e confia neles plenamente as suas dúvidas em relação ao mundo. O verdadeiro estudante nunca está num só lugar, pois ele caminha junto com os personagens dos seus livros. Pessoas inteligentes viajam sem sair da poltrona de casa!

O verdadeiro estudante é dono de uma força de vontade sem limites. Transpõe todas as esferas traçadas pelos educadores e psicólogos e segue atrás do conhecimento, no olhar adiante na certeza de que não há tempo a perder. O verdadeiro estudante não estuda o tempo da sua idade, mas o tempo que a idade lhe construiu. O verdadeiro estudante tem inveja dos grandes cientistas e intelectuais e quer sobressair-se a eles, por isso não espera que o seu mestre lhe ensine, mas trás para ele o que deseja aprender.

O verdadeiro estudante lapida seu próprio saber. Uma lápide feita com muito trabalho, lágrimas, solidão, frio, fadiga e tantas outras coisas que limitam o corpo quando a vontade não é maior do que o sonho. O verdadeiro estudante estuda dormindo. O sobressalto de madrugada significa a descoberta da solução para uma atividade. O verdadeiro estudante não precisa de belos cadernos, mochilas caras, canetas de ouro, tênis de grife, mas de belas palavras e invejável raciocínio matemático.

O verdadeiro estudante sabe que seu maior tesouro é o saber. Isso ninguém dele nunca vai poder roubar. O verdadeiro estudante não deixa herdeiros, que pena! O verdadeiro estudante deixa ao mundo uma palavrinha bem pequenina: criar. O verdadeiro estudante não morre, apenas adormece, pois suas pesquisas terão continuidade e seu nome em algum lugar sempre estará. O verdadeiro estudante é imortal!

Feliz dia do estudante para todos os meus alunos, em especial, aos alunos da Escola Municipal Sérgio de Oliveira Aguiar.
Estou de volta!

Fiquei todo esse tempo distante do meu diário, pois tive problemas com meu computador. Mas nao deixei de fazer as minhas anotações. Simplesmente troquei meu diário on-line pelo meu velho diário escrito.

Aqui, quero deixar o registro de um dos meus maiores trabalhos: educar crianças. A minha alegria de ouvir meu aluno de apenas sete anos ler a palavra: v-a-c-a. Minha satisfação de poder filosofar com os mais velhos e brincar de ingles.

Peço desculpas àqueles que aqui estiveram e não encontram nada de novo nesses últimos dias. Desculpas dadas, agora ao trabalho!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A volta das minhas monitoras, flores, desculpas e pedido de retorno às aulas

Hoje reiniciamos o projeto de monitoria da escola. Selecionei Jéssica, Gerciane e Bárbara. Elas me ajudam numa escala de reversamento todas as tardes quando não têm tarefas escolares. Ontem contei com a presença de Bárbara e hoje com a presença de Jéssica e Gerciane.

Cedinho pedi desculpas ao oitavo e ao nono ano. Solicitei que eles formassem uma dupla para me alertar quando eu estivesse passando uma matéria muito complexa e que o assunto fosse discutido na sala de aula e não fora. Disse que sou um ser humano como outro qualquer e passível de erros e enganos. Não sou um bicho e sei ouvir as pessoas. Eles aceitaram as minhas desculpas.

Hoje à tarde fiz prova de ciências com os meus alunos mais adiantados. Contei a história do Gato de Botas. Para os que ainda estão aprendendo a ler e a escrever passei texto com interpretação. Depois passei continhas.

Karolzinha estava chorando com dor de dente. Perguntei se ela queria ir para casa, mas disse que não. Então peguei água com açúcar e dei para ela dizendo que era um ótimo remédio para dor de dente. Ela tomou, mas minutos depois voltou a chorar. Achei melhor mandá-la para casa. Em casa ela tem o conforto da sua caminha e o carinho da sua mãe seguido de um remédio para aliviar a dor.

Hoje um aluno pequenino, tristinho, sujinho, com uma janelinha na boca, moreninho, magrinho e acima de tudo lindo me pediu para eu trazê-lo para minha casa. Naquele momento tive vontade de chorar, mas segurei as lágrimas. Disse para ele que não tinha tempo de cuidar dele, pois passo o dia na escola e que era melhor a gente se encontrar sempre ali. Eu cuidaria dele na escola. Só ficaríamos separados à noite, mas mesmo assim estaríamos ligados pelo pensamento. Acho que ele me entendeu. Pela primeira vez meu coração ficou sem palavras.

Conversei com Felipe no final da aula Procurei mostrar a ele a importância dos estudos. Pedi para ele procurar se comportar e não deixar os meninos o provocarem. Falei para ele da minha casinha que caiu devido o cupim, ele gostou e riu. Falei para ele do quanto foi difícil a minha vida e que só venci estudando.

E por falar em estudar tenho sentido a falta de Alexandre na escola. Perguntei por ele hoje e os meninos me disseram que ele tinha desistido. Fiquei muito triste com isso. Gosto de Alexandre. Ele está atrasado nos estudos, mas não significa que deve desistir; ao contrário, deve correr atrás do tempo perdido. Mandei uma carta para ele por Aleksandro e Deus permita que ele compreenda o teor da minha carta e receba o meu carinho, pois ficaria muito feliz em chegar na escola amanhã e revê-lo com aquele sorriso ingênuo e olhar meigo.

Daniel tem me presenteado todos os dias flores. Ele gosta que eu as coloque na minha roupa. Conversei com Eduardo para ele assistir aulas à tarde comigo. Quero que ele aprenda a escrever melhor.

Os meus alunos nem imaginam o quanto gosto deles. Nem têm idéia do bem que me dão. Se soubessem que são a razão do meu viver acho que ficariam mais felizes. Tem coisas que eles não sabem e eu respeito, porque nem tudo na vida a gente sabe. Sou do tipo que o fato de ler e escrever é o suficiente para quem quer alguma coisa. As outras ciências a gente vai aprendendo aos poucos, com o despertar da nossa curiosidade.
Passeio na praia

Ontem dei aula até as 15h30min. Depois do recreio eu e Ednaldo levamos os alunos para brincar na praia.
Antes de sairmos da escola dei aula de português e passei ditado de palavras explicando que nenhuma palavra começa com K, a não ser nomes de pessoas e de lugares. Expliquei o uso do "h", do "c" e do "ç". Fabrício foi o mais interessado nesse assunto.
O passeio foi muito divertido! Os alunos adoraram! Os meninos brincaram de futebol e as meninas de queimada.
Não houve nenhum fato de importância relevante. Tudo transcorreu bem no dia de hoje, graças a Deus.
Só pela manhã é que tive problemas nas turmas do 0itavo e nono anos. Reconheci meu erro, mas já era tarde demais. Algumas mães já tinham se revoltado, os alunos também. Fiquei aborrecida com o pessoal do nono ano que estava junto com o oitavo ano e numa autoridade desconhecida sobre a minha própria pessoa exigi dos alunos 10 (dez) redações, cada uma com 30 (trinta) linhas. Eles reclamaram bastante. Até aí eu ainda não tinha percebido a minha exigência esdrúxula, que seria o prazo de entrega: hoje. Coitados dos alunos! Nem eu teria condições de redigir tanto texto assim com tantos trabalhos para fazer. Reconheci meu erro e fiquei muito triste com isso. Mas era preciso esperar o dia amanhecer para pedir desculpas.

domingo, 5 de agosto de 2007

Porque as crianças chupam o dedo na sala de aula

Sempre me intrigou o por quê da criança chupar o dedo na sala de aula, na frente dos amigos, da professora, dos funcionários da escola. A criança não está nem aí se riem dela ou não. Sabe por quê? Eu sei. O dedo é a única coisa que ela gosta e pode trazer de casa para escola. Chupando o dedo ela lembra da sua casa, esquece que está num lugar estranho, esquece que está sozinha e precisa saber se defender.

Dizem os pais que a crinça que chupa o dedo não reclama de fome nunca. Quando criança chupei o dedo. Também chupava o dedo na sala de aula. Era a única forma que eu tinha de me lembrar de casa, dos meus brinquedos, das minhas bonecas e de mamãe e papai. Quando Karol, Higor e tantos outros chupam o dedo não reclamo. Sei que a escola não quer, mas fico pensando no quanto é gostoso a gente se sentir meio que em casa num lugar estranho. Quando me refiro que a escola é um lugar estranho, quero dizer que não é a mesma coisa de estar em casa. Em casa a criança pode tudo: dormir, comer, assistir televisão, brincar, correr, pular etc. Chupando o dedo ela esquece da distância entre a sua casa e a escola.

O dedo é o único brinquedo que acompanha a criança para todos os lugares. A criança que chupa o dedo não se sente sozinha nunca. Ela tem uma companhia que dá prazer, que faz esquecer as coisas ruins, que não briga com ela, que é gostosa, que é só dela. Como é bom saber que ninguém vai esconder o nosso dedo, como escondem a nossa boneca ou bola! O dedo é da criança. Ela sabe que esse é o único brinquedo que ninguém vai tirar dela. A criança que chupa dedo tem mais facilidade de aprender, mais poder de concentração, é mais carinhosa, é mais atenciosa e mais amiga.

Chupar o dedo é um gesto espontâneo e ao mesmo tempo uma fuga da realidade. É um momento em que a crinça se sente em casa. É um momento em que a criança se sente protegida. Algumas crianças que não chupam o dedo por hábito, freqüentemente colocam o dedo na boca com o mesmo objetivo das outras: a saudade de casa. O dedo é a garantia de que um pedaço da casa está ali. A criança que chupa o dedo é silenciosa, quieta. Não reclama quase nada. Tem seu dedo, o resto não importa.

Não sou contra a criança chupar o dedo na sala de aula. Quando criança sofri muito sempre que a professora exigia que eu retirasse o dedo da boca. Eu não tinha amigos. Era quieta demais. Quando chupava meu dedo esquecia quase tudo, só lembrava da minha casa. O dedo é o único elo entre a criança e o seu lar na escola. Ser arrancada todos os dias do lar para vir à escola não é agradável para nenhuma criança, por isso peço aos professores para deixarem seus alunos chupar o dedo, sempre que quiserem. Chupar o dedo não é feio. E um dia eles vão saber a hora de deixar de chupá-lo. Antes de instruir saiba amar, professor.
Karol

Karolzinha sabe ler, escrever e calcular. Adora chupar o dedo. Gosto de ser mimada. Me escreve vários bilhetes por aula. É uma doce menina. Karol gosta de ter a minha atenção, por isso me chama várias vezes só para perguntar qualquer coisa sem sentido.
Aprendi com Karol a não me perturbar diante do barulho dos outros meninos. Ela me ensinou que quando não queremos não ouvimos barulho algum. Karol gosta de sentar nas últimas carteiras. Faz suas tarefas. Depois coloca o dedo na boca e encosta a cabeça na carteira. Ali fica até que eu chame a sua atenção.
Com Karol aprendi a não me preoucupar com os problemas, pois para ela todas as atividades não parecem difíceis. Ela faz com uma paciência tranqüila. Gosto do seu jeitinho meigo de ser. Ajuda os colegas quando peço. Tem amizade com as outras meninas da turma. Contribui na leitura. Atenciosa e dedicada.
Para você, Karol, meu carinho especial nesta data.
Família e escola

Sexta-feira foi um dia bem cheio. Pela manhã dei aula de inglês e ajudei os alunos do nono ano nas olimpíadas de matemática.
À tarde, dei aulas de alfabetização para a minha turminha. Expliquei o que é família e escola com base no conceito de comunidade. Falei da importância da família, perguntei o que eles acham sobre as crianças que não têm família, questionei sobre como eles se sentiram quando os pais se separaram, como eles se sentem hoje e como eles ajudam em casa. Falei que a escola é a nossa segunda comunidade e que a família é a principal. Expliquei o termo "parentes". Convidei Vânia para explicar para eles o motivo da escola ter o nome Sérgio de Oliveira Aguiar. Também comecei a partir de sexta-feira a pedir para eles assinarem uma lista com o nome completo.
Os alunos estavam muito teimosos. Muitas vezes tive que interromper a aula e pedir silêncio. Mas nada os impedia de fazer barulho. Fiquei cansada e com a voz meio rouca. Pedrita tem se comportado mal; Afonso está disperso; Gabriela não presta atenção a nada; Amanda e Natália parecem não gostar de mim; Johnes faltou hoje;
A verdade é que depois que passei a ficar com o terceiro ano nunca mais tivemos condições de rezar, cantar o hino nacional, contar histórias. O que está acontecendo? Não é o aumento da turma. Simplesmente os alunos do segundo ano estão brincando muito com os do terceiro ano. Vou pedir o auxílio de Hítalo ou de Ednaldo amanhã.
A turminha que ainda está aprendendo a ler eu tenho reforçado português, mas eles continuam tentando adivinhar o que está escrito e não prestando atenção nas letras, na junção das mesmas. A compreensão textual está ótima, mas a leitura e a escrita muito ruim! Eles não estudam em casa! Não estudam na escola! Pedrita, Higor, Guilherme, Afonso, Gabriela fazem as atividades tão rapidamente que me assusta! Querem se ver livre do dever. Quando peço para eles lerem não sabem nada. Géssica também é um caso preocupante. Fica calada, mas sei que não está assimilando as aulas. Andreza parece que se descuidou das aulas. Karol continua com uma aprendizagem excelente, talvez a minha melhor aluna.
Amanhã eles terão uma nova missão. Levarão para casa uma folha cortada em quatro quadrados e em cada deles terão que fazer um desenho e uma pequena história. Também vou pedir para escreverem bilhetes para mim. Todos os dias vou querer bilhetes. Uma outra idéia que tive: vamos escrever cartas para Deus.
Amo a minha turminha, mas a coisa não anda bem por lá. Eu sei, eles são crianças. Mas é preciso conscientizá-los que a escola é lugar para estudar. Gosto daqueles meninos e meninas como gosto dos meus sobrinhos, pois eles me fazem feliz.
Estou com um problema: meu armário que divido com Telma está supercheio! Ela tem razão em reclamar, mas eu só sei dar aulas na alfabetização com um monte de livros. Vou providenciar um jeito de não encher tanto o armário dela.
Bem, amanhã é uma nova semana. Deus, me proteja guiando-me na sabedoria, tolerança, paciência e prudência.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Aula de matemática para os alunos do oitavo e nono anos

Hoje dei um reforço de matemática para os alunos do oitavo e nono anos. Eles gostam do meu jeito descontraído de dar aulas e fazer cálculos. Às vezes eu me enrolo e eles acham engraçado. Faço isso propositadamente, para eles perceberem que nem sempre o professor de matemática é o sabichão.

Peguei uma tarefa de regra de três simples, inequações, equações do segundo grau. O tempo foi curto, mas proveitoso.

Creio que eles gostaram. Telson se destacou nas aulas. É um bom matemático. Deveria estudar para ser um professor de matemática. Gosta de cálculos e sabe explicar direitinho.

Deixo aqui um recado para as turmas do oitavo e nono anos: EU AMO VOCÊS! Apesar das minhas reclamações porque vocês não estudam, isso não importa. Quem cuida zela é o que faço por vocês. Tenho zelo porque quero vê-los amanhã num bom emprego e cultos. Par Jéssica e Maria de Fátima vai um abraço pela linda cartinha; para Bárbara, minha adorável menina, vai um cheiro na ponta do nariz; para Jéssica que bebe água vai um copo d´água; para Marcelo que diz ser Jéssica uma grande bebedeira de água vai meu cheiro; para Vanessa, a menina tímida e esforçada, meu abraço amigo; para Geovane meus mais sinceros votos de esperança para que você venha a perceber que só os estudos podem modificar a sua vida.

Enfim eu amo vocês, meus alunos. Vocês são os filhos que não tive e que muito quis. Se eu pudesse adotaria cada um de vocês. Mas vocês têm uma vida linda e são felizes, portanto a mim cabe apenas aconselhar: corram atrás dos seus sonhos.
Estações do ano

Hoje trabalhamos ciências. Discuti com os alunos se eles sabiam me informar por que chove, faz frio, depois fica quente, faz calor, em outros dias venta muito e ainda há aqueles tempos em que as flores ficam bonitas. Eles falaram um bocado de coisas. Escrevi no quadro as quatro estações do ano: primavera, verão, inverno e outono. Pedi para cada um fazer um desenho sobre a estação que mais gosta, alguns fizeram desenhos com as quatro estações.

Eles têm me escrito bilhetes com pequenas frases. Alguns já sabem dizer: eu te amo. Vou ensinar a partir de amanhã a como escrever a palavra: Deus.

Hoje rezamos. Fazia três dias que não rezávamos.

Fizemos continhas de adição. Depois exercício de maior e menor que. Brincamos e lemos. Géssica não faltou hoje. Ana Luíza e Eloisio perderam aula hoje. Alguns alunos do terceiro ano, também. Ainda não os conheço todos.

Para a turminha que ainda está aprendendo a ler reforcei um pequeno texto, a sua leitura e interpretação.

Acho que foi só isso. Hoje foi um dia agradável.
Frases


Ontem, terça-feira, trabalhei com os alunos mais avançados o que é uma frase e quais os tipos das mesmas. Depois fiz uma brincadeira com cada um deles: cada aluno fazia uma pergunta; depois todo mundo dizia uau!; um aluno dizia uma coisa com alguém e a outra pessoa negava. Assim trabalhamos as frases: afirmativas, negativas, interrogativas e exclamativas.

Consegui um jeito de fazer com que todos assinem o nome com o maior cuidado todos os dias. Levo uma folha bem bonita e peço para cada um deles assinar. Percebi que eles se empolgaram bastante. A partir de amanhã vou imprimir mais cópias. Gabriel e Pedrita já assinam o nome. Afons me disse que leu uma palavra em casa, mas não disse qual. Raniel é meu aluno tímido, mas gosto dele. Higor precisa aprender muito, ainda.

Com os alunos que estão mais atrasados trabalhei um pequeno texto, sua leitura e interpretação.

Depois da aula de português trabalhei o sinal de maior que e menor que em matemática. Eles aprenderam rapidamente.

O que mais me intriga é a rapidez com que fazem as tarefas. Quanto mais eu passo, mais rápido eles fazem. O que mais me admira é o gosto pela leitura que estava adormecido e eu despertei.

Hoje foi um dia tranqüilo. Graças a Deus.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Felipe e Hugo

Ontem e hoje foram dias cansativos, como eu já esperava. Os 12 alunos que me foram entregues na última sexta-feira mal sabem ler. Comportam-se mal, falam palavrões, brigam uns com os outros, tumultuam as aulas. Sinceramente eu não sei o que fazer. Penso em desistir, mas não sei se essa é a melhor solução.
Dois alunos me deram trabalho ontem e hoje: Felipe e Hugo. Fiquei sem saber o que fazer com eles, pois batem nos pequenos, chamam palavrões, gritam, andam o tempo inteiro na sala. É difícil dar aulas com alunos assim. Infelizmente hoje tomei uma decisão brusca: suspendi por três dias os dois. Não tive escolha. A saída da sala desses dois alunos foi um alívio para mim e para os demais alunos. Eu não posso prejudicar 20 alunos por causa de apenas 2. Não é justo. Me julgue quem quiser.
Estou sendo julgada pela primeira vez na minha vida como uma péssima profissional. Não me sinto assim. E quem me julga sabe que não sou essa pessoa. Se há alguém que busca o melhor para a educação neste país sou eu. Sempre me dediquei a educação mesmo antes de estar numa sala de aula. Não me tomem o que lutei para conquistar. Não me julguem pelas minhas palavras, mas pelos meus atos. Me julguem pelos meus sentimentos, pela grandiosidade da minha alma. Eu não sou uma pessoa má. Se faço algo errado nessa vida, quem é que não faz?
Cadu e Eloisio faltam hoje, era o aniversário dos dois. Géssica esteve presente na aula. Andreza faltou, coisa rara.
Estou meio tristonha e não tenho muito o que falar. Apenas deixo a mensagem aos meus alunos: faço o que posso.

domingo, 29 de julho de 2007

a A

Com a escrevo ave
Meu beijo irá voar
Num assopro suave
O a está no mar.

A de amor
A de Ana, minha flor
A de alô
Saudades do vovô.

Primeira letra do alfabeto
Arara, avião, alegria
Escrever e ler certo
Última letra da palavra dia.

*Uma das minhas poesias do meu livro P de poesia, A de alegria.
Força e coragem, Rosângela!

Medo! Eis a palavra que me consome desde sexta-feira data em que recebi a turminha do terceiro ano. O que fazer com essas crianças? Algumas sequer sabem escrever o nome, outras trocam o "d" pelo "p" e ainda há aquelas que mal conhecem as vogais. Crianças com mais de oito anos de idade. Tenho medo, sim, não de controlar a turma! Tenho medo de que essas crianças não venham aprender a ler e a escrever até o final do ano.

A maior dificuldade de todos os alunos juntando o segundo e o terceiro ano é quanto as sílabas com mais de duas letras do tipo: brin, bra, vro, cran etc. Eles também não sabem diferenciar "po" de "por", parece que não prestam atenção ao som. Escrevem, por exemplo: "pota" e não "porta". Pedrita procura adivinhar o que está escrito no quadro, mas conhece as letras. Biel até se esforça junto com Húdson; Guilherme, Afonso e Cícero não se preocupam com nada.

Fico com medo de que essas crianças esqueçam seus sonhos no decorrer dos dias e diante das dificuldades. Não quero que eles percebam o quanto estão atrasados em termos de alfabetização, mas preciso chamar atenção deles de alguma forma. Tenho medo sim, medo de me tornar uma professora insensível. Com o acréscimo de mais alunos na sala não terei mais tempo para me dedicar a cada rostinho, cada sorriso, cada olhar, cada pedido, cada choro escondido, cada vergonha dentro da mochila, cada borracha perdida no meio das sílabas. Tenho medo de que as crianças se distraíam. Sei que preciso até amanhã descobrir uma fórmula mágica para incentivar esses meninos e meninas nos estudos.

Quanto ao ensino da matemática a turminha que recebi sexta-feira não sabe fazer continhas. Os meus alunos já sabem. Amanhã precisarei dividir o quadro em três e não mais em dois. Eu não sei o que vou fazer, pois tenho três casos sérios: 50% da turma sabe ler, mas escreve pouco; 20% ler alguma coisa e não escreve nada; 30% não ler e não escreve. Eis uma avaliação feita na última semana:

50% DOS QUE SABEM LER E ESCREVEM POUCO:

Fabrício (excelente em leitura e bom na escrita)
Eloísio (excelente em leitura e bom na escrita)
Ana Luíza (excelente em leitura e boa na escrita)
Karol (excelente em leitura e boa escrita)
Andreza (excelente em leitura, fraca em escrita, excelente em matemática)
Carlos Eduardo (bom em leitura, fraco em escrita, fraco em matemática)

20% DOS QUE SABEM LER ALGUMA COISA E NÃO ESCREVEM NADA

Gabriel (excelente em matemática)
Húdson (excelente em matemática)
Pedrita (sabe escrever o nome completo)

30% NÃO LER E NÃO ESCREVE (conhecem as vogais e algumas consoantes)

Cícero (dificuldade)
Géssica (falta muito)
Afonso (dificuldade)
Guilherme (dificuldade)
Higor (tem uma má caligrafia e retira o texto errado do quadro)

Esse é o quadro que eu tenho hoje. Quanto ao comportamente não tenho do que reclamar. O problema é que eles não prestam atenção na formação das palavras e na pronúncia. Não estudam em casa. Acredito que posso ajudar meus alunos com um antigo livro de poesias que fiz e engavetei. É um livro de poesias sobre as letras do alfabeto. Será que conseguirei alguma coisa com esse livro? Quem sabe?! Acho que não custa nada tentar. Deus me proteje e me ilumine nesta semana que está começando. Deus, proteja meus alunos.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Biel, eu te amo!
Meu querido Biel tenho visto seu esforço para aprender a ler. Gosto do seu jeito bonito de me pedir para ler uma história com você. Mas Tia está sempre ocupada para lhe dar atenção especial. Eu gostaria muito de poder sentar com você e passar horas lhe contando histórias, ajudando-lhe a ler. Mas compreenda sua Tia que tem mais treze alunos querendo a mesma coisa num mesmo momento.

Aos poucos, meu querido Biel, você vai aprender a ler sozinho através do seu próprio esforço. Eu vou ficar muito feliz, como no dia em que você leu a palavra "vaca" sozinho. Espere um pouco. Em breve estará lendo tudo quanto for história e as gravuras serão apenas para decorar o que hoje você não consegue decifrar.

Biel, quem luta, quem tem sonhos, quem tem coragem, tudo vence. Você ainda é muito pequenino para isso, logo não pode saber como lutar. Porém você pode estudar em casa e ocupar lugar de destaque na sua própria vida. Diante dos amigos você será sempre o Biel maravilhoso, diante de mim o meu menino corajoso, diante do mundo mais um menino alfabetizado.
Estarei sempre por aqui para te ajudar, meu querido. Conte comigo no que precisar. Não esqueça de mim, pois eu nunca esquecerei de você. Um grande beijo da sua Tia Rosa.
Resumo de um dia de aula com a minha turminha de alfabetização

Antes de começar a aula nós rezamos o Pai-Nosso. Fazemos uma pequena oração pedindo a Deus para nos proteger contra todo o mal e que tenhamos uma tarde agradável com saúde, paz e amor.

A aula começa. Sempre com português. Divido o quadro no meio, porque tem alguns alunos que ainda estão aprendendo a escrever e outros já sabem. É preciso saber lidar com essa diferença. Para mim é só uma questão de tempo. Aos que já sabem ler vou explorando a gramática e a interpretação textual. Aos que ainda estão aprendendo a ler exploro pequenos textos e a junção das sílabas para formar palavras.

Há o momento de contação de histórias. São cerca de trinta minutos, apenas. Uma história por dia. Às vezes eles trazem o livro de casa para eu ler. Acho bonita essa atitude das crianças.

Um pouco mais tarde tiro quinze minutos para conversarmos um pouco sobre religião. A vida de Jesus Cristo na Terra, os seus ensinamentos, a fé, a proteção e a confiança que devemos ter em Deus em todos os momentos das nossas vidas.

Após o intervalo (recreio) aula de artes. Ensino as crianças a fazerem desenhos. Exploro o poder da criatividade.

Já perto de terminar a aula faço um ditado com palavras do cotidiano das crianças. Elas gostam. Assim consigo assimilar que está aprendendo a ler e a escrever. Alguns sabem ler, porém não sabem escrever.

Por fim, passo o dever para casa. Eles gostam de continhas. Sempre levam para casa continhas para fazer. Isso é bom, porque desenvolve o raciocínio lógico.

As demais matérias são dadas no decorrer da semana. Português é a única que dou todos os dias. Ciências, história, geografia, matemática, inglês e filosofia são substituídas todos os dias. A matemática também tem um lugar especial, pois são três dias de aula.

Nas minhas aulas os alunos fazem o que eles gostam. Quando não gostam de algo ensino-lhes a gostar. Meus alunos não são obrigados a estudar nada que seja considerado chato. O chato não existe na minha sala de aula.

A campainha toca avisando que chegou o final da aula. As crianças me abraçam e me beijam. Vão para casa. Eu também vou. Até amanhã, dizemos todos.
Ter e ser
Conheço crianças que têm um lar, brinquedos, família, escola, esporte, comida e roupa lavada. Mas também conheço crianças que são tímidas, irrequietas, peraltas, teimosas, mentirosas, invejosas, educadas, inteligentes, preguiçosas, companheiras e especiais. Conheço crianças que têm muito e são muitas coisas; conheço crianças que têm muito e são poucas coisas; conheço crianças que nada têm e são tantas coisas.
Das crianças que têm muito e são muitas coisas destaco o meu pequeno Fabrício. Ele tem pais maravilhosos, amor, família, casa, pratica esportes (Karatê), brinca na rua, tem uma bicicleta. É um menino inteligente, amável, amigo, companheiro, bondoso e meigo. Para Fabrício o ter e o ser ainda não significam tanto, pois na sua vida tão pequenina ele só pensa em ser feliz. Sei que mais tarde essas duas palavrinhas pesarão muito na sua vida.
Das crianças que têm muito e são poucas coisas destaco o meu querido Vinícius. Tem uma mãe maravilhosa, tem uma casa, brinquedos, cadernos e material escolar bem organizados, roupas boas e bonitas, tem lanche todos os dias etc. Mas Vínícius não é feliz. Vejo isso no seu jeito de se comportar em sala de aula distante dos outros meninos. Chora por tudo. A sua sensibilidade está sempre ferida. O seu ser parece sempre perturbado com algo. Por uma simples bobagem Vinícius Chora, mas essa simples bobagem para ele pode parecer algo enorme!
Das crianças que nada têm e são tantas coisas me encanto diante do brilho do olhar de Andreza. Ter? O que a menina Andreza tem? Na sua casa falta água para tomar banho, falta comida, roupa limpa, falta o amor materno, o zelo dos pais, o xampu para lavar os cabelos, o gás para cozinhar a comida, alguém para ajudá-la a fazer suas tarefas de casa. Mas Andreza é um anjo. E ser um anjo é uma coisa maravilhosa, porque todos procuram ajudar os anjos perdidos aqui na Terra. Andreza é acima de tudo inteligente, boa em matemática, leitura, escrita, educação, amiga de todos, companheira, cúmplice, meiga, carinhosa, afetuosa, gentil e saudosa.
Em todos eles há uma coisa que supera os limites do ter enquanto bem material. Todos os meus alunos têm um coração do tamanho do mundo num sentido conotativo. Um coração que é bondoso e amigo. Nesse momento o ter e o ser se encontram e eu me torno pequena diante dos meus maravilhosos alunos que ainda não sabem distinguir se o melhor é ser feliz ou ter muito dinheiro; se o melhor é ter amigos ou viver num casarão isolado de todos; se o melhor é sorrir ou ficar de cara fechada para o mundo; um dia eles vão crescer e saberão distinguir essas duas palavras. Espero que sigam para o melhor caminho.

domingo, 22 de julho de 2007

Para alfabetizar é preciso amar

Deixo aqui meu recado aos alfabetizadores do meu país. É preciso amar o que fazemos. Antes de ensinar a criança a ler e a escrever é preciso ensinar-lhe a amar. Só o amor torna o homem curioso, logo sábio. Só o amor conserva a alma pura. Só o amor ultrapassa barreiras. Na minha pequena experiência com alfabetização venho escrevendo um livro sobre essa arte de amar que antes de mais nada devia ser uma das principais disciplinas da alfabetização. Não estou deixando de lado aqui a importância da língua portuguesa e da matemática. Não. Estou apenas alertando que a criança pequenina arrancada da sua casa para todos os dias ir a um lugar chato onde é obrigada a fazer o que não lhe dar prazer tem seu inconsciente menosprezado e abandonado por si próprio. Quer a criança poder livrar-se de tudo aquilo, mas não sabe como.

Tive, recentemente, uma experiência que levarei para o resto da minha vida. Depois de contar a história "Adivinha quanto eu te amo" comecei a dialogar com os meus alunos sobre o amor. Nesse diálogo um deles falou que a mãe sempre dizia que o amava. E assim os outros foram dizendo a mesma coisa. Um dos meus alunos ficou quieto, encheu os olhos de lágrimas, baixou a cabeça e teve vergonha de não sei o que. Fingi não perceber para não tornar a sua dor muito maior. No final da aula, o chamei até perto de mim, dei-lhe um grande abraço e cochichei no seu ouvido: eu te amo muito mais do que o coelhão pai. Ele sorriu e me disse: eu também te amo.

Talvez eu nunca alfabetize aquelas crianças como manda as leis e o regulamento da minha escola, mas uma coisa é certa: elas serão amadas e aprenderão a amar. O amor move montanhas e tudo pode.

Um abraco aos alfabetizadores do meu país.

Festa junina ou julina

Dia 20 de julho, dia do amigo. Amo meus amigos. Aqui deixo o meu recado àqueles que tão admiravelmente me têm como amiga. Um cheiro no âmago de cada um de vocês.

Hoje foi a nossa festa junina, um pouco atrasada diga-se de passagem. Mas foi uma festa superlegal! A minha turmina da alfabetização fez um casamento matuto, um não, três. Teve apresentações de quadrilhas e danças. Contamos com a participação de outros professores e alunos de outras escolas. Os pequeninos se divertiram bastante.

Os recadinhos do coração disseram o que muita gente esconde e só espera uma oportunidade para dizer. Jéssica quem era a responsável pelos recadinhos. Gracinha era a tesoureira da festa. Nada passava em branco por ela. Maria de Fátima e Telson estavam de azul. Contamos com a presença dos nossos ex-alunos. A presença da comunidade local. Foi uma festa agradabilíssima!
M antes de B e P

Sexta-feira dei aulas de inglês do sexto ao nono anos. À tarde dei aulas na turminha de alfabetização. Hoje trabalhei a gramática da língua portuguesa. Mostrei o uso do M antes das letras P e B. A metada da turminha que ainda está aprendendo a ler vai muito devagar. Eles tentam adivinhar o que está escrito no quadro. Ainda não despertaram para a junção das letras e a formação das sílabas. Penso que terei de voltar a cartilha do a b c. Hoje passei um texto bem fácil para eles:

A vila

A vila é bonita.
Na vila tem muitas casas.
As casas são de papelão.

Apesar do texto ser bem fácil eles confundem vila com vaca. Mas quando peço para eles juntarem as letrinhas percebem que não estão lendo corretamente. Preciso descobrir como fazer para despertar a aprendizagem nesses pequeninos.

Acho que é só isso por hoje. Tive uns contratempos, coisas de trabalho. Mas Deus, o bem maior, ajudou-me.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Maria de Fátima

Eu sei que um dia sentirei muitas saudades de você. Sou uma professora exigente, meio chata, às vezes muito chata, mas só hoje percebi que os professores chatos são os que mais nos amam. Sou assim porque me preocupo com você. E quando alguém se preocupa conosco é porque nos ama muito. Você me cativou, minha querida. Eu queria sorrir como você, viver sem me preocupar com o dia de amanhã, ver o mar tão perto e poder dizer bom dia e boa noite para ele.

Maria de Fátima você ficará para sempre nas minhas lembranças. Quando partir à procura de trabalho, lembre-se de mim, das minhas exigências, do meu jeito de pedir para fazer novamente e jamais lhe pedirão para fazer algo duas vezes, pois você tudo o que fizer será bem feito. Estou lhe preparando para essa vida dura que bate a nossa porta todos os dias. Uma vida árdua e cheia de espinhos. Com muita gente invejosa e ambiciosa. Com muita gente má.

Da sua professora de filsofia que tanto ama o saber com muito carinho fica aqui registrado o bem que lhe quero. Seja alguém na vida e não admita que muitos "alguéns" sejam a sua vida. Se destaque perante a multidão nem que seja através de um olhar diferente. Seja antes de tudo você e o mais não importa. Um cheiro.
A vaca

A vaca é bonita.
A vaca é do menino.
O menino puxa a vaca.
A vaca vai para o rio.

Retire do texto duas palavras com a letra v.

Retire do texto uma palavra com a letra r.

Qual o animal que aparece no texto?

O que a vaca faz?
Deus Toth, A lua e bom humor
Hoje foi um dia muito bonito! Uma quarta-feira que amanheceu nublada, com pancadas de chuva toda a manhã. Dei aulas na Escola Municipal Pedro Fernandes, meu único dia de aula nessa escola. Os alunos não sonham alto por lá. Eu sei que na escola eles buscam uma vida melhor, mas não sabem o que fazer com o que aprendem. Um deles me perguntou se eu estava de bom humor. Achei intrigante a resposta já que estou sempre contente com a vida. Ele me disse que tem muita gente na escola que demonstra não ter bom humor. Pedi um exemplo. Ele me deu vários. Tem gente carrancuda, gente que fala alto, gente que não sabe conversar. Pensei muito sobre o que ele me falou. E decidi falar um pouco sobre o bom humor.
As pessoas bem humoradas vivem mais tempo. São felizes. Elas não permitem que os problemas as dominem, elas dominam os problemas. As pessoas bem humoradas não ficam doentes facilmente. Vivem mais. Estão sempre com um sorriso no rosto. Falam manso e não se aborrecem com tolices. As pessoas bem humoradas procuram compreender os outros. Não vestem roupas, as roupas as vestem. As pessoas bem humoradas andam sempre para frente. Não falam dos outros, porque mal têm tempo para falar de si mesmas. Mas sabem escutar com atenção. As pessoas bem humoradas têm sonhos, geralmente quase impossíveis. As pessoas bem humoradas praticam boas ações. E mais ainda: as pessoas bem humoradas julgam as outras pelos atos e não pelas palavras. Ao meu aluno, que agora não me recordo o nome (aluno novato), meu sorriso e o meu bom humor com a resposta ao seguinte ditado: por que a curiosidade matou o gato? Acho que o gato pensou ter mais de uma vida. As pessoas de bom humor geralmente têm mais de uma vida.
Hoje inciei um curso de mitologia grega na Escola Municipal Sérgio de Oliveira Aguiar. A minha escola querida. O curso começou às 11:10 e terminou às 11:40. O primeiro deus trabalhado foi Toth. O deus da sabedoria, da escrita. O deus lunar. O deus venerado no panteão egípcio, lugar onde eram venerados os deuses. Toth é considerado um deus importante em relação a escrita. Antes de começar o curso falei um pouco da diferença entre lendas e mitos, expliquei o significado das palavras mimesis e diegesis. Falei sobre tradição oral, folclore etc. Participaram do curso: Maria de Fátima, Jéssica, Bárbara, Margareth, Lauro, Ana Ingrid e Hítalo. Se esqueci o nome de alguém me avisem, pois estou sem a lista de presença.
À tarde na aulinha de alfabetização expliquei o que é a lua e suas fases. Contei a história "Adivinha quanto eu te amo" (novamente). Nunca pensei que fosse contar essa história tantas vezes. Fiz desenhos com os alunos. Brincamos. Cantamos o hino nacional e a música "Era uma vez". Talvez eu não consigo alfabetizar esses pequeninos, mas uma coisa eu vou deixar no coração de cada um deles: amor. Hoje, eu perguntei quantas vezes eles já tinham escutado alguém dizer: eu te amo. Percebi que um dos alunos encheu os olhinhos de lágrimas cobriu o rosto para não ser visto chorando. Pedi para ele me dar um abraço, mas não quis. No final da aula, ele me abraçou e eu cochichei no seu ouvido: EU TE AMO. Não deixe para amanhã o que você tem vontade de dizer agora. Diga sempre EU TE AMO ao mundo.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Cícero

Hoje dei as cinco aulas pela manhã. No sexto ano dei uma matéria sobre encucação. Willamy ficou curioso e procurou no dicionário o que significa o verbo encucar. Depois dei aula no sétimo ano sobre discurso poético (mimesis e diegesis), mas eles estavam bagunçando na sala de aula e não consegui explicar a máteria. Fui para o oitavo ano e dei o mesmo assunto. No nono ano falei sobre o filósofo Cícero e seu poder de pesuasão; pedi para eles lerem o Diálogo sobre a amizade, de Cícero. Foi uma manhã meio chata. Tive problemas com Manoel Henrique e com o sétimo ano. Pedi para Hítalo ir dar uma bronca neles, pois estavam com expressões horríveis em sala de aula.

Os alunos que mais chamaram a minha atenção hoje foram: Willamy que demonstrou mais interesse pelas aulas. Maria de Fátima que não ficou com raiva de mim por tê-la mandado à direção. Margareth pela boa vontade de ler uma matéria de jornal para os colegas da sala. E fiquei muito triste com os demais alunos que não se esforçaram para obter uma boa nota nas avaliações contínuas de filosofia.

Na turminha de alfabetização só quem faltou hoje foi Géssica. Descobri que o novo aluno tem o nome iniciado por H, mas ele não usa. Ele também não sabe fazer continha de somar levando o 1 para cima dos outros, como por exemplo: 89+94; ele escreve 1713. Afonso passou a tarde toda sem chorar, que bom! Fabrício e Eloísio foram para a direção, porque estavam atrapalhando a leitura oral de Andreza. Soltaram pum direto na sala de aula. Biel hoje fez sua primeira leitura sozinho, leu a palavra: vaca. Hoje trabalhamos português e matemática. Eles revisaram os encontros vocálicos e consonantais e os dígrafos. Em matemática vimos o antecessor e o sucessor de um número. Fizemos continhas. Cantamos o hino nacional e a música "Era uma vez". Tivemos leitura oral do livro "Adivinha quanto eu te amo". A aprendizagem está rápida e muito bonita!

Acho que é isso. Mais um dia que se vai. Deixo o pensamento de Pascal para minhas própria reflexões: "o coração tem razões que a própria razão desconhece." Um abraço a todos.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Humanismo e dígrafos

Hoje tive um dia cheio. Dei as cinco aulas pela manha e mais aula à tarde para a alfabetização. Pela manhã tive um pequeno problema com Maria de Fátima e Elivelton, mandei os dois para a direção. Dei aulas de filosofia sobre: humanismo, discurso retorico, coisas irritantes. Acho que meus alunos estão precisando de limites para as suas ações e palavras. Estou preocupada com eles. O sexto ano não procura estudar e não presta atenção as aulas. Cobro muito do oitavo e nono ano e acho que tenho esquecido do sétimo ano. Eles tomaram um susto com o material de inglês a ser traduzido. Gosto do esforço de Bárbara e Margareth. Gosto do jeito ingênuo e meigo de Jéssica e adoro Tarcísio com o seu sorriso lindo. Meus alunos do sexto ao nono ano têm uma filosofia de vida tão bela que às vezes me faz perguntar se é preciso mudar alguma coisa ou tão-somente melhorar. Os alunos já começaram a reclamar dos trabalhos e das redações. Eles reclamam, mas no fim gostam das minhas avaliações contínuas. Sei que deixarei um pouco de mim dentro deles. Deixo hoje um abraço fraterno para Jackson (sexto ano), Neorges (sétimo ano), Roseani (oitavo ano) e Lauro (nono ano).
Quanto a turminha de alfabetização hoje recebi um novo aluno: Igor. Tem oito anos de idade e mal conhece as letras. Hoje eles tiveram aula de portugues (dígrafos) e artes (desenhos de tartaruga, elefante, girafa e cobra). Fizemos a nossa prece inicial antes de começar a aula. Hoje Aninha e Géssica faltaram. Acho que Géssica ficou envergonhada e sentiu-se triste quando numa carga de muito estresse não me expressei bem para com ela. Gostaria de que ela voltasse às aulas. Às vezes fazemos coisas que não faríamos se não est5ívessemos tão cansados. Géssica precisa de ajuda; é uma menina tímida e tem vergonha dos outros alunos, porque ainda não sabe ler. Eles estavam todos com a farda nova e felizes. Afonso pela primeira vez não chorou. Hudson adora desenhar e fez belos desenhos. Contei uma historinha escrita por mim intitulada "Chapeuzinho Azul", eles amaram. Cantamos a música: Era uma vez. A aula terminou às 17h05min. Gosto dos meus pequeninos. Sei que eles também gostam de mim. Pedrita já está escrevendo seu nome corretamente. Karol também. Só Guilherme ainda tem dificuldade para escrever seu nome. Hoje dividi o quadro no meio e separei as tarefas dos que estão mais avançados das tarefas dos que ainda precisam de mais reforço para a alfabetização.

domingo, 8 de julho de 2007


Minhas primeiras aulas de alfabetização


Faz duas semanas que comecei a dar aulas de alfabetização. Tenho no total treze alunos. Sao cinco meninas e oito meninos. Nunca antes pensei em alfabetizar ninguém. É um desafio para mim, mas muitos colegas têm me ajudado. Adoro crianças. Meus alunos são maravilhosos! Poucos já sabem ler. Sei que terei dificuldades. As aulas são engraçadas. Eu conto histórias, falo das coisas da vida, ensino português, matemática, ciências, geografia, inglês, história, filosofia e religião. Aprendi a amar essas treze crianças muito rapidamente. Tem Andreza que adora matemática. Aninha que é sempre dedicada e atenciosa. Fabrício que fala alto. Cadu com aqueles olhos verdes cheios de brilho. Pedrita que adora fazer trabalho em grupo. Hudson muito quieto e tranqüilo, porém não sabe ler ainda. Guilherme que também ainda não sabe ler. Cícero sequer conhece as vogais. Karol que adora me escrever cartinhas e gosta de fazer o dever sozinha. Afonso que chora por tudo, mas e perfeccionista e atencioso. Eloisio que tem problema de visão. Géssica que tem vergonha de não saber ler, ainda. Biel, meu querido, adora fazer leituras junto comigo. Antes de começar as aulas nós rezamos o Pai-Nosso e pedimos a Papai do Céu para nos proteger. Todas as sextas-feiras eu coloco um cartaz com estrelinhas para cada um. Aquele que se comportou melhor em sala de aula, fez as tarefas de casa e dedicou-se bastante é o que recebe o maior número de estrelinhas. Eu faço tarefas diferenciadas, porque cada um deles gosta de coisas diferentes. Pergunto o que eles querem fazer e assim vou ensinando o que sei. Eles adoram as minhas aulas de artes e sempre faço desenhos. Nas aulas de recreação brincamos e cantamos. O mais engraçado da minha turminha é que eles parecem com a Turma da Luluzinha. São meninos pra um lado e meninas para o outro.